A Vontade é a Ação de uma Força Magnética?
Os estudiosos das ciências ocultas atribuem considerável importância a uma força misteriosa que, segundo eles, constitui o elemento da vontade.
O objetivo do treinamento para querer seria criar, captar e acumular o máximo possível dessa energia, para poder projetá-la no mundo e assim influenciar as pessoas e os acontecimentos.[1]
Sobre a base desta afirmação foram construídos todos sistemas que explicam como essas “correntes de pensamento” se formam, circulam e atuam. Às vezes, esta energia chamada fluido, influxo magnético, prana, força vital, etc., é considerada como tendo poder radiante; provocaria vibrações que se harmonizariam, ou não, com as vibrações vindas de outros homens ou do Universo.
Os principais meios indicados para adquirir esta força são, com pequenas variações, os mesmos da Ioga: concentração, respiração rítmica, relaxamento, autossugestão, etc., sendo que a principal condição a ser cumprida é uma fé intensa. O sujeito deve imaginar que está abundantemente suprido do fluido, evocando tão completamente quanto possível o estado corporal e psicológico em que se encontraria se assim fosse. Passando em revista cada um dos seus sentidos, ele deve imaginar sensações visuais, auditivas, olfativas, etc., enquanto recita:
“Eu vejo, eu ouço, eu sinto, eu toco, eu raciocino, etc., como alguém que possui uma vontade formidável. O prana se reúne em mim. Eu sou um centro de forças que se irradiam, e isso me torna agradável, dominante, simpático. As palavras que digo são como flechas douradas que chegam às almas das pessoas” - e assim por diante.
É certo que tais pensamentos, alimentados com convicção e persistência, podem ser considerados um mecanismo importante de autossugestão.
Será possível ver nisso mais alguma coisa? Haverá neste tipo de fórmula, de uma maneira oculta e talvez ingênua, a expressão ou a intuição de uma realidade que vai além dos nossos meios normais de investigação? Há algumas mentes, e não pouco importantes, que acreditam nisso. Mas é preciso admitir que a existência destas “correntes”, destes “germes de pensamento”, destas “vibrações psíquicas” ainda não foi confirmada cientificamente. As vibrações emitidas pelo corpo humano, e captadas por observadores do mundo material, não possuem as virtudes extraordinárias que lhes são atribuídas pelos ocultistas. A questão, portanto, não está resolvida. Contudo, podemos admitir como provável a hipótese de que inúmeras forças cósmicas circulam ao nosso redor, e em nós, sem que tenhamos consciência disso.
Parece que a teoria do fluido dá satisfação acima de tudo à necessidade mística que muitos têm de se sentirem apoiados, inspirados e guiados por um poder desconhecido ao qual podem atribuir poderes ilimitados. [2]
Neste sentido, a teoria pode desempenhar um papel na educação da vontade. Os ocultistas, inspirados nas suas crenças, inventaram fórmulas de autossugestão que são muitas vezes escritas com um agudo sentido das necessidades do homem que deseja cultivar-se “psiquicamente”. Algumas fórmulas de autossugestão são dotadas de grande beleza literária. Os autores norte-americanos criaram fórmulas que apontam para o sucesso com grande quantidade de detalhes concretos.
É claro que a eficiência destas fórmulas maravilhosas só existe na medida em que acreditamos nelas. Na verdade, cada um de nós pode construir, ao longo das suas leituras, uma coleção de “frases escolhidas”, tiradas de obras muito diferentes. Essas fórmulas de autossugestão, relidas com sentimento, podem produzir tanto “fluido” tanto quanto as “frases feitas” oferecidas pelos manuais.
Em resumo, a crença na força magnética está ligada a práticas mágicas que a ciência [3] não confirmou. É por isso que aconselho os meus leitores a não perderem tempo em exercícios intermináveis e cansativos para tentar projetar telepaticamente o seu “prana” através do Universo. Há coisas melhores a fazer.
Por outro lado, se - como é normal - você tem necessidade de sentir que está ligado a uma força sobrenatural, em vez de vagar ao acaso no labirinto de hipóteses ocultas, entre em contato com as grandes religiões. [4] Lá as suas tendências místicas serão cultivadas, disciplinadas, purificadas, sublimadas; elas não correm o risco de fazer você cair nos desvios do absurdo mental. (Veja neste livro o item Religião).
Contudo, se você se sentir suficientemente forte intelectualmente para não temer as tonturas que os abismos do desconhecido provocam, poderá, como forma de praticar a vontade, ler alguns livros de ocultismo da maneira como se leem dissertações metafísicas. Aproveite o encanto indefinido, a profunda poesia muitas vezes, e o convite para participar do mistério do universo. Mas nem é preciso dizer que você não encontrará aí uma técnica para o sucesso pessoal. [5]
NOTAS:
[1] Influenciar de modo benigno, fundamentalmente inofensivo e construtivo, porque tudo aquilo que alguém projeta para os outros, volta para ele. (CCA)
[2] JVR escreve para não-místicos, sobre assuntos esotéricos. Ele ensina a prática da filosofia esotérica autêntica, mas faz isso sem assumir o rótulo de místico, porque escreve para o público amplo. (CCA)
[3] Ciência convencional. (CCA)
[4] A afirmação é teosófica. Ao recomendar “as grandes religiões”, no plural, JVR deixa implícito que há uma essência comum às diferentes tradições religiosas, isto é, uma sabedoria divina universal. (CCA)
[5] O estudo místico autêntico não oferece fama, dinheiro, ou poder mundano. (CCA)
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Jean des Vignes Rouges é o nome literário do militar e pensador francês Jean Taboureau (1879-1970).
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O texto “O Fluido Magnético” foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas no dia 26 de dezembro de 2024. Trata-se de uma tradução da obra «Dictionnaire de la Volonté», de Jean des Vignes Rouges, Éditions J. Oliven, Paris, 320 pp., 1945, pp. 133-135. Tradução: Carlos Cardoso Aveline.
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Leia mais:
* Outros textos de Jean des Vignes Rouges.
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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