A Traição Contra
Helena
Blavatsky Começa nos
Anos 1880
Carlos Cardoso Aveline
A escritora russa Helena
Blavatsky, estátua feita pelo escultor Alexei Leonov
No
século 19, o cristianismo foi usado como ponta de lança colonialista para
dominar a cultura religiosa e filosófica tradicional da Índia, e para consolidar
a dominação britânica naquele país.
Tão
logo o movimento teosófico ganhou força, começaram os ataques dos missionários
cristãos contra Helena Blavatsky e a Teosofia. Em 1884-1885, a campanha
antiteosófica passou a incluir táticas como suborno, infiltração de agentes no
movimento e falsas denúncias com grande cobertura da mídia.
Diante
disso, os teosofistas situados em Adyar - sede internacional da Sociedade
Teosófica - sentiram-se intimidados e assustados. Faltou-lhes coragem. Salvo
exceções, deixaram de defender a fundadora do movimento.
Poucos
entre eles haviam compreendido um fato básico:
Todo aspirante à sabedoria é
atacado e testado no plano moral, e isso acontece na exata medida do seu
esforço para elevar-se no plano do espírito. A integridade do aprendiz, a sua
capacidade de ser implacavelmente honesto consigo mesmo e com os outros, é a única
base sobre a qual pode acontecer o aprendizado da alma.
Atacada
de vários modos, defendida por poucos, Helena Blavatsky adoeceu gravemente, mas
a sua missão não poderia terminar naquele momento. A saúde da escritora russa
foi restabelecida no essencial por um Mestre. Ela viajou para a Europa
ocidental, terminou de recuperar-se e dedicou-se a redigir “A Doutrina Secreta”.
Com
os ataques de 1884-1885, rompeu-se um certo vínculo magnético em várias frentes.
Vejamos alguns exemplos:
*
As Cartas dos Mestres deixam de fluir. Frustrado, Alfred P. Sinnett afasta-se
de Blavatsky. Incapaz de aceitar o fato de que os Mestres haviam decidido fazer
silêncio, Sinnett cai em conversas mediúnicas imaginárias com falsos Mestres.
*
Damodar Mavalankar, discípulo avançado, um braço direito de HPB, chega ao
limite da sua resistência humana. É obrigado a retirar-se de Adyar e, convidado
por seu instrutor, vai para um Ashram dos Mestres.
*
Subba Row, outro discípulo avançado, não tem a mesma sorte que Damodar. Caindo no
círculo magnético da desorientação, ele perde o bom senso e morre pouco depois.
*
Charles Leadbeater, que havia sido aceito como discípulo em provação, falha no
teste. Mais tarde, quando é organizada na Inglaterra a Escola Esotérica, Leadbeater
não é admitido nela por H.P.B. Este dado é, aliás, decisivo para demonstrar que
Leadbeater fracassou como discípulo. Ao invés de estar na Escola Esotérica, ele
passou a fazer parte de um grupo rival em Londres, liderado por Alfred Sinnett,
que já caíra no mundo da falsa clarividência.
* A vasta maioria dos teosofistas situados em Adyar perde o foco, enquanto HPB retoma com força o seu trabalho a partir de 1887, desde Londres.
Quem estuda os documentos da época, fartamente publicados hoje, vê, portanto, que a traição à fundadora do movimento começou sete anos antes da morte dela, e “floresceu” mais livremente sob a liderança de Annie Besant depois que HPB abandonou a vida física em 1891.
As pessoas estavam despreparadas para a busca da sabedoria.
A
ponte entre os mestres e a civilização ocidental fracassava, com algumas
exceções. Abriam-se as portas para as grandes guerras mundiais. Estavam dadas
as bases da decadência moral e da falta de bom senso que reinariam no século 20
e nas primeiras décadas do século 21.
Em
uma carta de 1885 a Alfred Sinnett, quando Sinnett ainda não havia se voltado
contra ela, H.P.B. descreve o modo como os teosofistas de Adyar se recusam
sistematicamente a defendê-la, ou a defender a verdade, e desabafa:
“Por
que os meus melhores amigos permitem que eu seja tão caluniada?” [1]
Na
mesma carta, duas páginas mais adiante, ela acrescenta com a franqueza de quem nasceu
sob o signo de Leão e confia na luz do Sol e da verdade:
“Enquanto
meus inimigos me reduzem a pedaços, o pessoal de Adyar brinca de ‘esconde-esconde’
- eles fingem que estão mortos - ah! Os pobres miseráveis covardes! (....) Eu
digo a você, eu sofro mais com estes traidores teosóficos do que com os Coulomb, os Patterson, ou mesmo a
S.P.P.”. [2]
Talvez
ela estivesse advertindo Sinnett sobre o perigo de ele seguir o mesmo rumo. Felizmente,
ele jamais a atacou no plano pessoal. Perdeu o foco, mas não foi um traidor no
sentido frontal do termo.
Em
16 de junho de 1885, Blavatsky escreveu em uma carta a Francesca Arundale:
“E,
ah, querida, quantos traidores e Judas de todas as cores e tonalidades nós
temos no próprio coração da Sociedade. A ambição é um conselheiro terrível!” [3]
HPB
devia saber o que estava dizendo, ao usar esta linguagem enfática. Ela passou
por uma crucificação moral e emocional em vida.
Um
século depois, em 1986, a Sociedade de Pesquisas Psíquicas (S.P.P.), que a
acusara de fraude, finalmente admitiu os fatos, ainda que indiretamente. HPB
era honesta e inocente: a fraude estava apenas nas acusações da própria S.P.P.
contra ela.
Na
primeira metade do século 21, um pequeno número de teosofistas compreende o
caráter absolutamente central da ética e da honestidade como bases de todo
conhecimento teosófico ou filosófico. É razoável esperar que este número
cresça, abrindo espaço para um melhor contato com as verdadeiras fontes de
conhecimento e inspiração.
NOTAS:
[1]“The Letters of H.P. Blavatsky to A. P. Sinnett”, Theosophical University
Press, Pasadena, California, 1973, 404 pp., ver Carta XLVI, p. 112.
[2]“The Letters of H.P. Blavatsky to A. P. Sinnett”, volume citado, Carta XLVI, p.
114. Veja também o artigo “Por Que Não Volto à Índia”,
de HPB.
[3]“The Letters of H. P. Blavatsky to A. P. Sinnett”, volume citado, Carta XLII,
p. 95. A ambição subconsciente está entre os fatores que estimulam os covardes
a não apoiarem os líderes, quando os líderes são injustamente atacados. Há
nisso também um elemento de ingratidão.
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O artigo
“HPB e os Pobres Covardes em Adyar”
está disponível nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde 24 de
maio de 2023.
Uma
versão inicial do texto foi publicada anonimamente no número 01 de “O Teosofista”, em junho de 2007. Título
original: “‘Pobres Covardes em Adyar’: a
Traição a H.P. Blavatsky Começa nos Anos 1880”.
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Leia mais:
*
Por Que Não Volto à Índia.
* A Fraude da Escola Esotérica.
* Blavatsky é Best-Seller em Adyar.
*
Krishnamurti e as Ilusões Besantianas.
*
Os Estudantes de Blavatsky na Sociedade de Adyar.
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Para ler mais sobre a mal-disfarçada traição contra HPB e
o trabalho dos Mahatmas, clique para ver,
em inglês, o livro de Alice Cleather intitulado “H.P. Blavatsky: A Great Betrayal”.
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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